Partindo do contexto da “fandom culture”, esta comunicação incide a atenção nos subgéneros de ficção de fãs,“fan fiction”, que se concentram em contestar géneros sexuais fixos e posições de sujeito disponíveis na sociedade normativa. A partir do conceito de re-escrita, analisa-se um corpus de textos de ficção de fãs em Português (do Brasil e Portugal), publicados na página “Archive of Our Own”. Estas ficções reelaboram e reinventam clássicas narrativas de heteronormatividade, colocando as suas personagens favoritas em cenários alternativos, desta forma explorando o que significa ser queer, em termos de agência individual e de poder.
A “Fandom culture” é uma subcultura transnacional que se tem desenvolvido explosivamente na internet, durante as últimas décadas. Estudos anteriores concluíram que a atividade transcultural de ficção de fãs conduzida na internet, representa uma cultura altamente interactiva, que além de funcionar como uma escola de escrita criativa (com “beta readers” e “feedback” dos outros fãs), também influencia positivamente a formação de identidades, habilidades sociais e aprendizagens culturais. Uma vertente, particularmente forte, entre os subgenéros de ficção de fãs é, precisamente, o “slash” (same pairing): o emparelhamento sexual ou romântico entre dois personagens do mesmo sexo que na história original são heterossexuais.
Ao reelaborar as narrativas canónicas favoritas e os seus personagens preferidos, os escritores/fãs inscrevem-nos em novos situações e subjectividades que desafiam os discursos de heteronormatividade, deste modo configurando os elementos para uma utopia queer.
2018.
International Conference Queering Luso–Afro–Brazilian Studies, University of Porto, 1-2 June 2018