Denominar e difamar sempre foram estratégias correntes na resistência contra as mulheres que, tal como as Três Marias, se atrevem a levantar a voz no discurso público e a reivindicar direitos igualitários. A denominação, ao conotar especificidades identitárias como o aspecto físico e/ou a sexualidade, tem sido um veículo eficaz para exercer violência simbólica sobre as mulheres, envergonhando, intimidando e desacreditando-as, e para as remeter ao silêncio. Assim as mulheres transgressoras da primeira vaga eram consideradas "doentes histéricas" e "masculinizadas" e as da segunda vaga, como as Três Marias, “prostitutas” e “lésbicas ".
Nesta intervenção, faço o levantamento de formas actuais dessa estratégia e da política de contrafeminismo, referindo o exemplo sueco atual para discutir um fenómeno global e transnacional recente, i.e., a prática de ódio nas redes sociais. De que modo a Internet permite que indivíduos e/ou grupos, com raízes nas ideologias de extrema-direita e invocando a liberdade de expressão, de novo ameacem e aterrorizem estas mulheres? Qual é a lógica discursiva desses grupos: denominar as feministas contemporâneas de “nazi-feministas”? Como lutar contra essa violenta expressão de ódio que, em última instância, pode constituir uma ameaça séria ao nosso sistema democrático?