Se a obra de Camilo Castelo Branco dá um papel predominante aos homens, revelando até que ponto o século XIX é o século da “virilidade triunfante”, podemos considerar que, por outro lado, esta atitude também deixa transparecer todos os impactos da “hegemonia masculina” sobre as mulheres. Dominadas, infantilizadas e inferiorizadas, as mulheres tornam-se objectos centrais para a valorização da masculinidade, servindo de “objecto de intercâmbio” entre os homens da época para selar qualquer acordo familiar ou económico. Sem qualquer poder interventivo sobre o seu “destino”, a mulher é condenada a seguir uma “destination sociale” (Fraisse, 1991: 63) que lhe é imposta, isto é, assumir as funções de esposa e mãe. Na obra de Camilo Castelo Branco, há em certas figuras femininas um movimento de revolta que leva a uma forma de re-apropriação de si e de seu destino. Este movimento manifesta-se nas personagens pela expressão de uma “violência transgressiva”, cujo paradigma será a mulher “histérica” ou “nervosa”, transformando o seu corpo em símbolo/sintoma de um sujeito em crise, mas também em arma de rejeição dos modelos impostos.